A possível mudança do carnaval de Salvador envolvendo o tradicional circuito Dodô (Barra/Ondina) e o trecho da orla atlântica entre a Boca do Rio e Patamares, na orla atlântica, tem gerado especulações sobre os rumos da folia. Um projeto que vai detalhar os impactos dessa mudança deverá ser apresentado à gestão pública no próximo mês.
Nesta reportagem, o g1 explica os seguintes pontos:
- Como surgiu o circuito Barra/Ondina e qual a importância cultural?
- O que essa mudança prevê?
- O que dizem os envolvidos?
- Quais os impactos econômicos da mudança?
- Quantos e quais são os circuitos do carnaval de Salvador?
Como surgiu o circuito Barra/Ondina e qual a importância cultural?
O circuito Dodô, também conhecido como Barra/Ondina, sai do Farol da Barra e segue até o monumento As Meninas do Brasil, também conhecido como “As Gordinhas de Ondina”, na entrada da Avenida Milton Santos. O trajeto tem 4,5 quilômetros de percurso, que geralmente são feitos em cerca de cinco horas.
O Dodô foi criado nos meados da década de 1990, quando a cantora Daniela Mercury resolveu migrar do Centro para o carnaval da Barra. Em resumo, na época o carnaval no Campo Grande – o circuito Osmar – estava muito cheio e não comportava mais tanta gente. Não por coincidência, os defensores de um novo circuito apontam que agora é o Dodô que já não comporta tanta gente.
Ainda no começo dos anos 90, para tentar desafogar os foliões, em um local com mais espaço para o desfile, Daniela bancou a decisão de levar o bloco Crocodilo, um dos mais tradicionais da festa para a Barra.
Nos primeiros anos, a maior parte dos blocos históricos da cidade se manteve no circuito do Centro, mas já com olhos para o circuito da Barra. Foi criada uma espécie de divisão inferior com novos blocos que passaram a desfilar no orla, e assim nasciam os "blocos alternativos". O tradicional EVA seguia no circuito do Centro e tinha como 'alternativo' o Nu Outro Eva no novo circuito, o mesmo valia para o Camaleão, que tinha como alternativo o Nana Banana, enquanto o pioneiro Internacionais tinha o Alô Inter como alternativo.
Com o passar dos anos, o circuito Barra/Ondina passou de alternativo para principal e, atualmente, é onde ficam os grandes camarotes e onde se apresentam as maiores atrações, como a própria Daniela, Ivete Sangalo, Bell Marques, Claudia Leitte, além de outros artistas que vêm de fora da Bahia, como Anitta.
A possível mudança não prevê a extinção do circuito Dodô. O anúncio feito pelo prefeito Bruno Reis, no dia 7 de junho, estabelece que apenas atrações de menor porte fiquem no trecho Barra/Ondina, como já funciona no Fuzuê e Furdunço, festas de pré-carnaval criadas em 2015.
Com essa alteração, as grandes atrações que desfilam nos trios elétricos, seriam redirecionadas para o outro ponto da orla, que vai da Boca do Rio a Patamares. O trecho delimitado pela prefeitura engloba 22 terrenos e será desapropriado para passar por requalificação.
O novo circuito da Boca do Rio terá quatro quilômetros. A situação será decidida após o projeto que envolve a mesa diretora do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) e técnicos da Saltur. Além disso, também participarão do debate membros de outras áreas, como a Polícia Militar e as secretarias de Saúde e Mobilidade Urbana.
O que dizem os envolvidos?
A prefeitura e a Empresa Salvador Turismo (Saltur) afirmam que o circuito Barra/Ondina já não comporta mais a proporção dos festejos de carnaval, e apontam problemas relacionados à infraestrutura da região.
A mudança também divide a opinião de moradores. Representantes da Associação de Moradores e Amigos da Barra (Amabarra) são a favor da mudança do circuito. Para eles, a festa está “sufocando o bairro” e o modelo está “saturado”.
Em contrapartida, outro grupo de moradores que faz parte do grupo SOS Carnaval, junto com empresários da Barra e turistas, é contra a mudança e chegou a distribuir panfletos e coletar assinaturas para um abaixo-assinado.
Segundo o SOS Carnaval, caso a mudança seja aprovada pela prefeitura, o grupo irá acionar Ministério Público e o poder legislativo. Associações de artistas, donos de trio e de camarotes também se posicionam contra o deslocamento das grandes atrações para a Boca do Rio em 2023. Parte dos envolvidos defende que o ano que seja usado como teste antes de uma mudança definitiva.
Os impactos econômicos ainda não foram calculados por todos os empresários, mas pode ser milionário para o setor de hotelaria, imobiliário e comercial da região. A mudança vai afetar diversos setores da economia, como: hotéis e pousadas, estabelecimentos comerciais, mercados, farmácias e até a renda extra de quem aluga apartamentos no período carnavalescos.
Outro impacto citado pelos empresários é o referente à relocação dos trios elétricos, blocos e camarotes, que já têm posicionamento e estrutura definidos e conhecidos pelo público.
Quantos e quais são os circuitos do carnaval de Salvador?
Apesar do mais conhecido e procurado ser o Dodô (Barra/Ondina), o carnaval de Salvador tem outros sete circuitos. Conheça:
- Osmar (Campo Grande): O circuito Osmar ia do Campo Grande ao Campo Grande, descendo pela Avenida Sete de Setembro e subindo a Avenida Carlos Gomes. Em 2009, o Conselho Municipal do Carnaval alterou o percurso, que agora termina na praça Castro Alves. São 4 km de distância, que também são feitos em cerca de 5h. É o circuito mais tradicional do carnaval de Salvador.
- Batatinha (Pelourinho): O circuito Batatinha acontece nas ruas do Pelourinho, sem um trajeto de início e fim. É o circuito mais "família" do carnaval de Salvador, indicado principalmente para crianças. Durante a folia rolam concursos e as principais atrações são as marchinhas e fanfarras, que remetem ao carnaval antigo.
- Sérgio Bezerra (Barra): O Sérgio Bezerra entrou na programação do carnaval em 2013, como circuito do desfile do Habeas Copos. O percurso sai da Rua Marques de Leão em direção ao Farol da Barra, seguindo pelas ruas Miguel Burnier e Airosa Galvão, passando pela Avenida Oceânica.
- Orlando Tapajós (Ondina/Barra): O Orlando Tapajós é o circuito do Furdunço e Fuzuê. Basicamente, é o percurso no sentido inverso ao Dodô: sai da praia de Ondina, na altura do Morro do Gato, e segue até o Farol da Barra. É um circuito para relembrar antigos carnavais sem trios elétricos e blocos sem cordas.
- Contrafluxo (Praça Castro Alves): O circuito Contrafluxo é realizado nas imediações da Praça Castro Alves, entre o final da Avenida Sete de Setembro e o início da Avenida Carlos Gomes. Assim como o Batatinha, é um circuito sem um trajeto de início e fim.
- Mestre Bimba: É realizado no bairro do Nordeste de Amaralina, bem distante dos circuitos centrais da folia. Foi criado em 2012 e conta com dezenas de 40 blocos locais, que desfilam pelas ruas do Nordeste de Amaralina.
- Riachão: É o percurso da tradicional Mudança do Garcia, que vai do bairro do Garcia até o Campo Grande. Apesar da Mudança do Garcia ter iniciado lá em 1959, o nome do circuito só foi oficializado em 2015, em homenagem ao artista que é foi criado do bairro.

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