191 anos

FEIRA 191 ANOS: O cordel faz parte da história da Princesa

 Metropolitana e cosmopolita, Feira de Santana tem estreita relação com “as coisas do povo”, pois dele surgiu e, graças a ele, cresceu. Assim, seria difícil falar da Princesa sem lembrá-la tendo nas mãos um livro de cordel, como uma espécie de ABC ou cartilha. Sem a televisão, o rádio ainda incipiente e a leitura um privilégio de poucos, o cordel foi, durante muito tempo, o verdadeiro meio de comunicação desfrutado pelo popular.

Era comum, nas feiras-livres e não só em Feira de Santana, mas onde houvesse esse tipo de comércio popular a céu aberto, a presença de cordelistas e folheteiros. Os primeiros eram os autores dessas histórias, os outros, os vendedores, embora alguns cumprissem os dois papéis. Havia ainda um terceiro integrante desse universo da cultura popular, que eram os “declamadores”. Geralmente privilegiados pela voz e alfabetizados, eram pagos para ler os livros.

Falar em cordel hoje em Feira de Santana é indispensável citar Franklin Machado, feirense nato, advogado e jornalista, que abdicou das formaturas e até de uma vida social de maior relevância para viver o ‘cordelismo’, dos que dormem e acordam fazendo versos e vendendo seu produto pelo mundo. Foi assim que ele viveu muitos anos em São Paulo e outras cidades, além de projetar essa forma literária fora das fronteiras verde e amarela, como em Portugal, um dos berços do cordel.

Mas, além do ”Maxado”, assim autointitulado, seria impossível passar por esse caminho sem mencionar Jurivaldo Alves da Silva, natural de Baixa Grande, mas há muito tempo radicado aqui — desde os 17 anos —, e cujo protagonismo de vida pode ser tema para muitos cordéis. Depois de exercer cerca de duas dezenas ou mais de profissões, fixou-se no que mais gostava e há alguns anos está instalado no Mercado de Arte Popular (MAP) com a sua Cordelteca, Box COO8.

Entre os livros no MAP e em sua residência, ele estima cerca de 5.000 volumes, um dos acervos mais valiosos do país. Muitas dessas obras são raras e invendáveis. Jurivaldo conheceu os livros de cordel aos 12/13 anos, em Baixa Grande, e como não sabia ler, aguçava o ouvido na feira-livre. Rodou o Brasil em diversas atividades difíceis, mas todas honestas, como trabalhador rural, empregado doméstico, camelô, fabricante de remédio, garçom, garimpeiro, motorista, ator de circo e cinema, borracheiro, vaqueiro, trapezista, inventor, desenhista, vacinador e empresário, dentre outras profissões.

Hoje, fala com propriedade sobre o assunto, tornando-se não apenas cordelista e folheteiro, como também um palestrante requisitado em eventos específicos aqui e em outros estados, sendo, também, ator e intérprete do cangaceiro Lampião. Ele aponta Antônio Alves, que era de Mata de São João, morou em Feira durante mais de meio século e aqui faleceu em 2013, como um verdadeiro mago dos versos. “Ele ouvia ou presenciava algo interessante, e imediatamente produzia um cordel.”

Cita como exemplo a confusão entre um vaqueiro rico e outro rapaz, num cabaré aqui em Feira, que resultou no cordel “Os Perigos de Fernando e Joventina”, com uma enorme vendagem na época. “Eu era menor de idade e tive que correr na hora da confusão, mas foi um fato real”, diz. “Vaquejada Sinistra” e “A Briga de Lampião com Antônio Silvino no Inferno” são outras obras de Antônio Alves que venderam muito. “Ele deve ter produzido cerca de 200 livros”, ressalta. Erotildes Miranda, cuja origem está entre Candeal e Feira de Santana, é outro nome apontado por ele. “Erotildes produziu pouco, em torno de 40 cordéis, mas de muita qualidade.”

Ainda lembrando grandes cordelistas que aqui viveram, embora não fossem feirenses, ele destaca Rodolfo Coelho Cavalcante, “o maior cordelista da Bahia, que era alagoano”. Atualmente, o panorama do cordel é alentador, observa, citando entre os mais novos Nivaldo Cruz, Garotinho, Adauto Borges, Ademar, Patrícia Oliveira (sua filha), incluindo-se também João Ramos, que “por uma questão de saúde, não vem participando”.

Concluindo, ressalta que hoje os livros com temas infantis e históricos são os mais procurados, tomando o lugar das antigas aventuras baseadas no cangaço, brigas, amores frustrados, política e fatos meramente ficcionais. Com a nova linhagem, que tem poder didático e é utilizada na escola, o cordel se reinventa e se revigora, garante.

Esta reportagem faz parte da série de matérias especiais elaboradas pela Secretaria de Comunicação Social, destacando personalidades feirenses, monumentos, órgãos e empresas que fazem parte da história do município. A iniciativa comemora o aniversário de 191 anos de emancipação político-administrativa de Feira de Santana, celebrado em 18 de setembro.

Por: Zadir Marques Porto

Sobre o Compromisso com a Notícia

0 comentários:

Postar um comentário

Tecnologia do Blogger.