Teto da igreja de ouro desabou em Salvador — Foto: Defesa Civil de Salvador
O desabamento de parte do teto da
Igreja da Ordem Primeira de São Francisco, conhecida como "igreja de
ouro", matou
uma jovem de 26 anos e deixou outras cinco pessoas feridas, na tarde
de quarta-feira (5), no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador.
O acidente ocorreu por volta das
14h30, no templo da Ordem Primeira de São Francisco, que fica no Pelourinho.
Imagens feitas por testemunhas mostram os estragos logo após o ocorrido. O
espaço onde os fiéis ficavam durante as missas foi coberto por destroços,
principalmente a madeira que cobria o telhado.
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Autoridades
lamentam morte de turista em desabamento de teto da 'igreja de ouro' em
Salvador
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'Só ouvia
o grito de uma pessoa': veja
relato de testemunha que entrou na 'igreja de ouro' para tentar ajudar vítimas
Veja abaixo o que se sabe sobre a tragédia:
2. Quem era a jovem que morreu?
3. Quem são os feridos e qual o estado
de saúde deles?
5. Quais problemas foram registrados no
local?
7. Quem é responsável pela estrutura?
8. Quando surgiram os problemas?
9. Quais as dificuldades para a obra?
10.
Qual a importância do equipamento?
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Parte de teto de
igreja de ouro desaba — Foto: Reprodução
1 - Como foi o desabamento?
O acidente aconteceu em meio a
visitação de turistas ao templo, que seguia aberto para roteiros mesmo com
problemas estruturais há anos. O acesso custava R$ 10 por pessoa, mesmo valor
que foi pago pelas vítimas.
A guia de turismo Meirelúcia Oliveira
acompanhava um grupo de São Paulo e estava prestes a sair do templo, quando
tudo aconteceu. A jovem morta no acidente não estava com o grupo comandado por
ela.
"Quando a gente já estava na
porta [de saída], a igreja abriu um buracão. [A madeira] Veio descendo,
arriando, eu gritei por misericórdia, saí por ali e a família arrombou a porta.
Nós conseguimos sair, sobreviver", disse Meirelúcia ao g1.
Guia detalha
momentos de tensão durante queda do teto de igreja de ouro em Salvador
Pessoas que passaram pelo Largo do
Cruzeiro de São Francisco relataram ter escutado um forte estrondo e tentaram
ajudar os feridos.
Imagens feitas por testemunhas
mostram os estragos logo após o desabamento. O espaço onde os fiéis ficavam
durante as missas foi coberto por destroços, principalmente a madeira que
cobria o forro da nave.
Parte de teto de
famosa 'igreja de ouro' do Centro Histórico de Salvador desaba
2 - Quem era a jovem que morreu?
Giulia
Panchoni Righetto tinha 26 anos e nasceu em Ribeirão Preto, no
interior de São Paulo, mas morava na capital. Em Salvador, ela curtia
férias com dois amigos e o namorado, que também estavam na igreja.
Os homens não se feriram, pois estavam um espaço mais afastado.
O corpo de Giulia foi retirado por
volta das 16h50 por profissionais do Departamento de Polícia Técnica (DPT), e
foi encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal. O procedimento foi
encerrado ainda na noite de quarta-feira. Não se sabe ainda quando será feito o
translado para o sepultamento.
3 - Quem são os
feridos e qual o estado de saúde deles?
A amiga da turista sofreu um corte na
testa e foi levada para um hospital particular da cidade. Ela teve alta
hospitalar no final da manhã desta quinta. Outras quatro pessoas, que não
estavam com o mesmo grupo, foram atendidas na Unidade de Pronto Atendimento
(UPA) dos Barris e já foram liberadas.
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Jovem que morreu
após teto de igreja desabar na Bahia, Giulia Righetto colecionava viagens fora
do país — Foto: Reprodução/ Redes sociais
4 - Como o caso é investigado?
A Polícia Técnica da Bahia informou
que a perícia
na igreja começou ainda na quarta-feira (5) e deve ser
concluída nesta quinta. Por volta das 10h30, o procedimento estava em
andamento. Ainda de acordo com os policiais, o resultado deve sair em 10 dias,
mas o prazo ainda pode ser prorrogado.
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Igreja foi
interditada após o desabamento — Foto: Natally Acioli/g1 BA
5 - Quais problemas foram registrados no local?
Na última segunda-feira (3), o frei
Pedro Júnior Freitas da Silva, que ocupa a função de guardião-diretor da
igreja, havia alertado o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan) sobre uma "dilatação" no forro do teto e pediu uma vistoria.
A visita dos técnicos estava agendada para esta quinta (6).
Segundo o presidente do instituto,
Leandro Grass, a solicitação da igreja foi feita pelo protocolo normal, que não
é o caminho para o caso de uma urgência.
De acordo com ele, se foi detectado
um problema urgente, a solução é ligar para a Defesa Civil. "Se ele
comunicou a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros, eu não sei dizer. Se, de fato,
ele verificou alguma emergência. Se tivesse algum risco de estrutura, ele
deveria que comunicar esses órgãos”, concluiu Grass.
IPHAN relata que
igreja não passou por vistoria em um período recente
O superintendente do órgão em
Salvador, Hermano Guanaes, reforçou a falta de vistoria recente durante
entrevista à TV Bahia.
"A vistoria não acontece todos
os dias. É preciso que haja um problema detectado. Quando há um problema é que
nós somos chamados para participar também, porque não é uma questão que envolve
só a competência de patrimônio, mas também outros órgãos, que também cuidam.
Então, como qualquer tipo de acidente, você não prevê que ele vá acontecer
assim, dessa forma", afirmou.
6 - O que dizem outros órgãos?
O diretor da Defesa Civil de
Salvador, Sósthenes Macedo, reforçou que o poder público sabia que havia
algumas partes comprometidas na estrutura, contudo, sem riscos de desabamento,
por isso o espaço não estava interditado.
"Já tivemos, inclusive, um
passado episódio aqui com o pináculo, que ficou por um tempo gerando risco. Foi
feita uma operação em conjunto, foi retirado o pináculo, dando a liberdade do
uso. Agora, é claro que todas essas edificações, principalmente as mais
antigas, têm que estar em dias com a lei de manutenção predial para que
episódios como esse não se repitam", destacou.
Boletim Jornalismo:
diretor geral da Defesa Civil comenta desabamento do teto de igreja
Já o coronel Adson Marchesine,
comandante do Corpo de Bombeiros Militares da Bahia, classificou o episódio
como uma "surpresa". "Estava já tendo um projeto de reforma na
igreja, mas não chegou ao conhecimento do Corpo de Bombeiros a necessidade de
interditar o local. Realmente foi um fato surpresa, foi uma tragédia",
declarou.
7 - Quem é responsável pela estrutura?
Em nota, o Iphan disse que a
responsabilidade pela estrutura é da Ordem Primeira de São Francisco, grupo
religioso que administra o templo religioso. Todavia, por se tratar de um
patrimônio histórico, o órgão faz restaurações e dá auxílio técnico.
"O imóvel é de propriedade da
Ordem Primeira de São Francisco, responsável direta pela gestão e manutenção da
edificação. O Iphan, enquanto órgão de proteção do patrimônio cultural
brasileiro, tem atuado na preservação do bem, com ações como o restauro dos
painéis de azulejaria portuguesa, concluído em maio de 2023, e a elaboração do
projeto de restauração do edifício, atualmente em andamento", diz trecho
da nota emitida.
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Complexo da Igreja
e Convento de São Francisco em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia
O responsável pela igreja não se
posicionou tecnicamente a respeito. No perfil oficial no Instagram, o templo
lamentou o ocorrido "com profundo pesar", em nome da Província
Franciscana de Santo Antônio do Brasil e da Comunidade Franciscana da Bahia.
"Neste momento de imensa dor,
unimo-nos em oração pela vítima fatal, por seus familiares e por todos os
atingidos por essa tragédia. Os feridos estão recebendo os cuidados
necessários, e as autoridades competentes já foram acionadas para investigar as
causas do ocorrido e adotar as providências cabíveis para garantir a segurança
do local".
Já a Arquidiocese de Salvador
informou, em nota, que, "diante do lamentável acidente", manifesta a
"mais profunda solidariedade" com a Província Franciscana de Santo
Antônio do Brasil, Ordem dos Frades Menores (OFM), e com as vítimas e famílias
delas.
"O patrimônio histórico ora
afetado é de valor inestimável para a humanidade - Patrimônio Mundial pela
UNESCO, para o Brasil e para a Igreja. Testemunho da fé de um povo e, dos Frades
Franciscanos Menores, em particular, que por mais de três séculos se empenham
na preservação desta obra nascida da fé", diz o posicionamento.
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Autoridades
lamentam morte de turista em desabamento do teto da 'igreja de ouro' em
Salvador
8 - Quando surgiram os problemas?
Arquivo: Igreja
histórica da Bahia, que é patrimônio tombado pelo Iphan, está com estrutura
precária — Foto: Itana Alencar/g1
Registros feitos pelo g1 no ano de 2023 documentaram
problemas estruturais da Igreja de São Francisco. Em imagens, é
possível ver pintura e teto desgastados, pilastras sem reboco e piso
desnivelado em vários pontos do templo - o que dificultava a locomoção de
pessoas com mobilidade reduzida.
Também havia pontos de eletricidade
com fiação exposta, O teto nos corredores do complexo religioso, composto pela
igreja e pelo Convento dos Freis Franciscanos, estava escorado com ripas.
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Polícia
Federal vai investigar desabamento de teto da 'igreja de ouro' que matou uma
turista
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Arquivo: Igreja
histórica da Bahia, que é patrimônio tombado pelo Iphan, está com estrutura
precária — Foto: Itana Alencar/g1
Na época, o g1 questionou ao Iphan se havia
previsão de restauro do restante do local e o órgão informou que incluiu, no
planejamento de ações de 2023, a contratação de empresa para elaboração dos
projetos executivos de arquitetura, engenharia e restauração da Igreja de São
Francisco.
Quando esta etapa fosse finalizada,
conforme o instituto, seria aberto um processo para contratar a empresa que
fará as obras. O tempo médio de restauração de um monumento como a Igreja de
São Francisco dura entre dois e três anos, de acordo com o órgão.
Nesta quarta, o Iphan disse que atua
na "preservação do bem, com ações como o restauro dos painéis de
azulejaria portuguesa, concluído em maio de 2023, e a elaboração do projeto de
restauração do edifício, atualmente em andamento".
Ainda em 2023, um dos pátios da
igreja foi parcialmente fechado porque havia
risco de queda do pináculo direito. A estrutura, uma cúpula de uma
tonelada e meia, chegou a ser removida.
Em maio de 2023, o governo federal
fez a restauração
dos painéis lusitanos de todo o prédio, porém, as melhorias não
se estenderam a outras partes do templo, que careciam de manutenção.
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ANTES E
DEPOIS: veja
como era e como ficou 'igreja de ouro' após desabamento do teto em Salvador
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Azulejos
portugueses na Igreja e Convento de São Francisco, em Salvador — Foto: Fábio
Marconi/Divulgação PMS
9 - Quais as dificuldades para a obra?
O templo religioso é tombado como
patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. Para fazer a restauração da Igreja e Convento de São Francisco, é
preciso primeiro que o projeto da obra seja avaliado e aprovado pela comissão
técnica do Iphan, que avalia o nível de preservação do bem e autoriza a
construção.
Isso porque todo patrimônio tombado
só pode ser reformado se as características que justificaram o tombamento, a
exemplo da fachada e do conjunto arquitetônico, se mantiverem as mesmas.
No caso da igreja franciscana, os
desafios são grandes para assegurar as características tradicionais do barroco,
destacou o órgão na época.
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Igreja de São
Francisco de Assis, em Salvador — Foto: Fábio Marconi/Divulgação PMS
10 - Qual a importância do equipamento?
O templo religioso
é considerado uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo. As estruturas da
Igreja e Convento de São Francisco começaram a ser construídas em 1686.
A obra só foi concluída com doação de
moradores em 1723, mesmo tendo sido aberta ao público dez anos antes, em 1713.
Quem vê de fora, não imagina o luxo
na parte interior do tempo. As superfícies internas - paredes, colunas, teto,
capelas - são revestidas de intrincados entalhes cobertos de ouro, com florões,
arcos, e inúmeras figuras de anjos e pássaros, símbolos do barroco brasileiro.
Ricamente decorado, o espaço tem
imagens de mestres santeiros baianos e lusitanos, verdadeiras obras-primas da
arte sacra, duas pias de pedra doadas por Dom João V, quando era rei de
Portugal, bem como balaustradas e outras peças esculpidas em jacarandá, um tipo
de madeira nobre.
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Igreja de São
Francisco de Assis, em Salvador, é símbolo do barroco brasileiro — Foto: Fábio
Marconi/Divulgação PMS
Nos púlpitos e tetos, há várias
pinturas, muitas delas produzidas em 1737 pelo pintor português Bartolomeu
Antunes, conhecido como o mais importante mestre ladrilhador do país
colonizador.
Sobre o parapeito do coro, existe um
antiquíssimo oratório com um crucifixo e dez pequenos nichos com relíquias,
entre elas o crânio de um mártir a quem se atribuiu o nome de São Fidélis,
doado pelo papa Inocêncio XII.
Além da suntuosa capela-mor, dedicada
a São Francisco de Assis, o espaço possui oito capelas secundárias. O cadeiral
entalhado do coro, a estante para o missal e as grades entre as capelas
secundárias são obras do frei Luís de Jesus, conhecido como "Irmão
Torneiro". Estes elementos são do século 17 e foram reaproveitados da
primeira igreja edificada no local, portanto, são os mais antigos da coleção.
A sacristia também possui um grande
arcaz em madeira entalhada feito pelo "Irmão Torneiro", com pinturas
sobre pequenas placas de cobre encaixadas em nichos, mostrando cenas da vida de
São Francisco. Sobre o móvel, junto ao teto, está outra série de pinturas de
Bartolomeu Antunes, com a mesma temática.
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