Pela primeira vez em 190 anos de
existência, a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) tem uma mulher no cargo de
presidente. A deputada estadual Ivana Bastos (PSD), eleita como primeira
vice-presidente, assumiu o posto principal após o Supremo Tribunal Federal (STF) barrar
o terceiro mandato consecutivo de Adolfo Menezes (PSD) por considerar
inconstitucional.
A decisão da Corte foi tomada em 28 de
fevereiro, por unanimidade. O mérito do caso ainda deve ser julgado,
mas a única dúvida é se os ministros determinarão uma nova eleição.
Se assim for, Ivana garante que o
nome dela estará na disputa. A expectativa é de continuidade no mandato
recém-iniciado.
"Acredito
que esse será um mandato de revelação, de muito trabalho, de persistência, de
muita luta", disse a deputada em entrevista exclusiva ao g1. A presidente da Alba recebeu o portal em seu
gabinete na sexta-feira (7), véspera do Dia Internacional da Mulher.
Ao lembrar a data, ela avaliou porque
demorou tanto tempo para que uma figura feminina ocupasse o mais alto cargo do
Legislativo baiano. Dos 63 deputados estaduais atualmente em exercício na Alba,
apenas nove são mulheres.
"Nós, mulheres, ainda somos uma
minoria na política. Eu demorei 14 anos para ser deputada. (...) A gente vê que
o tempo passou e temos conseguido nossos espaços, mas ainda é muito pouco"
Parlamentar mais votada do estado na
eleição de 2022, com 118.417 votos, Ivana destacou ainda as pautas prioritárias
que pretende conduzir na Alba, admitiu que foi "voto vencido" durante
as articulações para a eleição regular da mesa-diretora e abordou o futuro
político.
Confira os
destaques da entrevista abaixo:
Na avaliação da senhora, por que levou 190 anos para que uma mulher
ocupasse a presidência da Alba?
Nós, mulheres, ainda somos minoria na
política. Eu demorei 14 anos para chegar a ser deputada. Agora já estou no meu
quarto mandato e assumo a presidência da Assembleia Legislativa. A gente vê o
tempo que passou e temos conseguido os nossos espaços, mas ainda é muito pouco.
Então, agora a responsabilidade de dirigir essa casa ao lado dos nossos 62
deputados estaduais aqui da Bahia é muito grande. Nós só somos nove mulheres no
Parlamento.
Agora, com a união de todos os
deputados, acredito que esse será um mandato de revelação, de muito trabalho,
de persistência, de muita luta. Aqui nós precisamos trabalhar mais as
comissões. Eu vou levar essa proposta à mesa-diretora, de votar mais projetos
de deputado e discutir esses projetos. Essa é uma das nossas intenções.
Sua chegada à presidência não aconteceu por meio do processo regular,
mas sim porque Adolfo Menezes foi afastado. Conhecendo os deputados e a Alba a
fundo, a senhora acredita que uma mulher teria chances de assumir a presidência
da Casa através de uma eleição?
Eu acredito sim. Meu nome estava
posto para presidente da assembleia. Pela articulação política do nosso partido
junto com os outros partidos, o deputado Adolfo manteve a candidatura dele e a
gente vê o resultado da eleição: foram 62 votos [favoráveis ao político]. A
gente sabia que poderia ter algum questionamento jurídico e, diante disso, meu
nome já estava colocado para eu assumir esse lugar.
Eu estou aqui hoje por força de uma
liminar, que foi referendada pelo Supremo Tribunal Federal. Precisam agora
julgar o mérito: se vai ter uma nova eleição, se não vai ter. Nós estamos aqui
prontos e preparados para o que o Supremo possa decidir.
Eu acredito muito que o fato de eu
ter sido eleita primeira vice abre espaço para novas mulheres poderem dizer:
“eu sou candidata a presidente da assembleia ou de qualquer outro órgão”.
Porque quando nós começamos lá atrás, a gente não tinha nem oportunidade de
fazer parte da mesa-diretora. Eu fui a primeira mulher na CCJ [Comissão de
Constituição e Justiça] na gestão passada e nós tivemos depois a deputada Maria
Del Carmen (PT) como presidente da comissão. Nós estamos avançando e mostrando
nosso espaço.
Adolfo foi eleito quase que por unanimidade, com apenas um voto
contrário [do deputado Hilton Coelho (PSOL), autor da ação que barrou a
eleição] e uma ausência. Mas a senhora também teve uma votação expressiva, com
56 votos. Como o PSD e os aliados já sabiam que poderia haver esse
questionamento jurídico, a senhora acha que foi um erro insistir num terceiro
mandato do agora ex-presidente?
Eu acho que foi uma decisão do
deputado Adolfo. A gente vê também que foi uma decisão da casa e a gente
precisa respeitar a maioria absoluta dos deputados. Eu fui voto vencido dentro
do partido e isso não me trouxe nenhum constrangimento.
Eu gostaria muito de não ter passado por tudo isso. Eu acho
que seria mais tranquilo, mas tudo pra gente é mais difícil, tudo pra gente
parece que é mais complicado.
Como presidente, quais são as prioridades que a senhora pretende tocar
ao longo do seu mandato?
Na próxima semana, nós teremos a
primeira reunião da mesa diretora, quando faremos um calendário de trabalho.
Nós vamos também ter as comissões temáticas, onde a gente tem algumas
audiências públicas já agendadas aqui na casa.
Nós temos um problema sério de Coelba
[a discussão quanto à renovação
do contrato de concessão], que precisa ser discutido a fundo. Nós
temos aí a ViaBahia [o TCU
confirmou o fim da concessão], que a comissão de infraestrutura da
Casa teve um papel assim importantíssimo para debater, para cobrar e acho que o
papel nosso aqui do parlamento é cobrar por uma sociedade melhor.
Eu estou cheia de planos, que eu
preciso discutir com os deputados. Eu estou aqui na presidência, mas eu
represento todos eles e não pretendo tomar nenhuma posição individual, de
hipótese nenhuma. Essa é a minha intenção: ter uma gestão sempre compartilhada
com 62 deputados dessa Casa, independente de partido, independente de
ideologia.
E de que modo a Assembleia deve colaborar com projetos e pautas em prol
dos direitos da população feminina?
Nós temos uma comissão especial dos
Direitos da mulher, onde nós deputadas temos um papel muito importante. Aqui a
gente discute do empreendedorismo feminino ao feminicídio. Então, eu acho que o
fato de ter uma presidente mulher também torna isso mais forte. A mulher começa
a se enxergar aqui e ver que a Casa está aberta às ideias, à participação do
povo.
A senhora foi a deputada mais votada na última eleição e agora foi
reconhecida como presidente. Essa expressividade no voto popular junto à
experiência institucional vão te impulsionar a disputar outros cargos
futuramente?
Cada agonia no seu dia. O resultado
dessa eleição foi fruto de muito trabalho e de muita luta. Hoje eu estou focada
na presidência da Alba, então eu estou vivendo esse momento.
O PSD, um dos maiores partidos da Bahia e parte da base do governo, deve
ser cabeça de chapa na próxima eleição? A senhora ambiciona ocupar uma das
vagas?
Nós somos um partido aliado ao
governo do estado e o PSD tem, sim, condições de marchar [à frente] numa chapa
majoritária. Quanto a Ivana Bastos, a gente começa aí. O céu é o limite.

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